Questionado pelas atuações recentes do Botafogo, Renato Paiva teve motivos para comemorar neste domingo. No Nilton Santos, o time jogou bem e goleou o Inter por 4 a 0.
Apesar do semblante mais leve na entrevista coletiva e do placar elástico diante da torcida, Renato foi sincero e apontou falhas de sua equipe, especialmente no primeiro tempo. A exibição do Botafogo na etapa final, no entanto, arrancou sorrisos e foi digna de elogios do treinador.
- O resultado é melhor que a exibição na primeira parte. Acho que a primeira parte não é para nós estarmos a ganhar de 2 a 0, sinceramente. Mas depois corrigimos algumas coisas e, de fato, a segunda parte é toda nossa em termos de jogar e não deixamos o adversário jogar. Aí nós estivemos muito bem, e acaba por ser já uma segunda parte com muita imagem daquilo que eu gosto. Mas reforço: entramos muito bem no jogo, os primeiros 10, 15 minutos nossos foram de muita qualidade. Depois tenho que perceber se foi o gol que influenciou, nós baixamos, por isso tenho que corrigir. Não posso aceitar e nem permitir - analisou Paiva.
O português também destacou a importância do resultado para a confiança dos jogadores e elogiou a eficiência do time neste domingo.
- A importância é sempre aquela de nós trabalharmos em cima de uma vitória que nos dá confiança em relação aos números. A eficácia que tivemos hoje, não tivemos em outras partidas. Hoje, em especial na primeira parte, não tivemos tanto a bola como eu quero e gosto. Marcamos cedo, não sei se isso afetou a equipe ou não, mas de fato não conseguimos ter o controlo do jogo. Ganhávamos a bola e perdíamos, dávamos posses ao Internacional mais largas do que aquilo que eu quero, sem o Internacional criar grandes oportunidades de perigo. Mas chegou muitas vezes na nossa área, ganhou vários escanteios. Neste jogo, o maior pecado foi depois do nosso gol, porque nós começamos muito bem, na minha opinião. Dinâmicos, a entrar ofensivamente por várias formas e por vários lados na defesa adversária. Depois vou tentar perceber se o gol mexeu com a minha equipe, não pode. Nós temos que manter os níveis muito altos e temos que, se sentimos que há condições para isso, tentar fechar os jogos.
Outros trechos
Maior efetividade
- Esta questão da eficácia é o crescimento dos jogadores com os jogos. Porque nós não podemos treinar, não conseguimos, a não ser recuperar e pontualmente fazer uma ou outra coisa, mas é um dia ou dois. E não pode desgastar muito porque esses jogadores que às vezes não jogam hoje vão jogar no próximo, portanto não pode exagerar muito. Eu devo isso ao crescimento dos jogadores em competição. Quanto mais minutos vão tendo, mais confiança vão ganhando e melhor vão performando. E depois, obviamente, também tem a ver com o talento individual. Em uns dias sai melhor, em outros não sai. É mais do aspecto individual para mim. Nós, enquanto treinadores, a nossa responsabilidade sempre é coletiva, de levarmos a bola do nosso gol ou gol adversário dentro de uma estrutura coletiva, com uma ideia de jogo. Depois são essas ligações individuais e as decisões individuais que vão permitir que isso aconteça ou não, sendo que a última finalização é sempre algo individual. E da mesma forma temos que evitar que a bola do adversário chegue do gol deles ao nosso. A parte individual é o sétimo momento do jogo, o que às vezes ninguém considera. Hoje de fato os jogadores conseguiram, ou por inspiração ou por crescimento, fazer essa eficácia estar presente.
Pressão
- Sem querer tirar importância do externo, o grande segredo é fecharmos no interno. Nós sabemos quem somos, com quem trabalhamos, os jogadores sabem que são, eu sei quem sou, não cheguei aqui por acaso... E mesmo que eu quisesse olhar para o externo, não conseguiria. A minha rotina no dia de jogo, hoje eu faço as palestras de manhã, almoço e vou ver o Estudiantes. Mas tem o jogo com o Internacional, e às vezes ainda me engano com os jogadores (risos). Mesmo que eu quisesse, não tinha tempo. E se eu quisesse fazer isso, estaria traindo aqueles que aqui estão, porque todo tempo é pouco para preparar o que temos que preparar. Por que eu vi hoje o Estudiantes? Porque amanhã e terça-feira os treinos estão relacionados com o que eu vi do Estudiantes, não posso chegar amanhã para preparar o treino, já tenho que saber. Depois já tenho que saber do Flamengo. Não temos tempo nem para dormir, durmo cinco a seis horas por dia. Não estou me queixando porque sou um privilegiado comparado com muitas vidas que existem. Dentro da minha profissão, o Brasil é um mundo à parte, mas tenho que me adaptar.
Avaliação do trabalho
- Eu vou fazer um resumo do que tem sido até hoje a temporada. Há números que são claros. As nossas derrotas são todas por 1 a 0. E há derrotas onde, se calhar, nós jogamos para ganhar. Bragantino, por exemplo, com o Estudiantes... Eu lembro que contra o Red Bull o Igor tem uma bola na trave e temos mais uma finalização que não concretizamos. Com o Estudiantes aos dois minutos, o Artu cabeceia na pequena área, estava 0 a 0. Para não falar com o Bahia, por exemplo, tivemos duas bolas completamente sozinhos. Sempre me caracterizaram como um treinador muito ofensivo, mas que as minhas equipes sofriam muitos gols. Isso confirmou-se no Equador, no primeiro torneio, no segundo já não foi assim. E aquilo que eu estava a sentir é que era uma equipe que sofria poucos gols. Lembro até aquele dado, nas duas primeiras rodadas, o Botafogo não ter sofrido gols não acontecia há um monte de tempo.
- Mas também não criava como eu gosto que as minhas equipes criem. Em alguns jogos tínhamos bola sem fazer mal ao adversário, e não é esse o meu conceito de jogo. Portanto, nem tudo está bem quando ganha, e nem é teoria do caos quando perde. E em muitas derrotas foram estes detalhes em que na nossa eficácia ofensiva não tivemos, e por um detalhe às vezes individual, eu não quero expor os jogadores, acabamos por ser penalizados.
- Quero que a equipe vá crescendo em questões de controlar o jogo. Um bocadinho a imagem desta segunda parte e da primeira parte com o Fluminense. Que mantenha pelo menos estes números e também não conceda tanto a chegada do adversário. Isto é num mundo perfeito, mas se consegue treinando e mantendo pelo menos uma espinha dorsal. O nosso melhor jogo foi com o Fluminense, no jogo a seguir já não tinha quatro jogadores. Então tem sempre que se reinventar. Hoje jogamos com o Artur de 10. É a minha missão encontrar soluções, podem funcionar ou não. E como eu não tenho tempo para treinar, vai pelo histórico do jogador, pelas características dele.
- Nos últimos cinco jogos nós temos quatro vitórias. Podem dizer assim: "E as exibições"? Isso é outra coisa. Quando a equipa joga bem e não ganha, não interessa jogar bem. Então estamos sempre na linha de tiro, não é? Me interessa mesmo que não jogue bem, ganhe. Compita constantemente.
Artur
- Eu converso com todos. Ainda bem que tocou nesse assunto, porque foi exatamente a primeira coisa que eu fiz quando me encontrei com o Artur. Foi dizer assim: "Olha, se está com a mochila de substituir o Luiz Henrique, tira já porque o Luiz Henrique é o Luiz Henrique, e o Artur é o Artur, com características completamente diferentes". Vem para a mesma posição? Ok. É uma contratação de peso pelo histórico? Ok. Mas vem para fazer o que o Artur fez nos outros clubes e que o levaram a chegar aonde ele chegou, ponto. Ele é completamente diferente do Luiz Henrique em tudo.
- Portanto, foi a primeira coisa tirar essa pressão, porque às vezes é uma pressão desnecessária quando eu quero ser alguém que eu não sou nem consigo. A exibição do Artur tem a ver, repito, não podendo treinar, com o histórico dele, porque já chegou a esta posição, com as características que eu vejo dele, aproxima-se do gol jogando ali. É um jogador que pode não ter aquele último passe que tem o Savarino, mas tem outras coisas como verticalidade e finalização. Olhando para o elenco e não havendo jogadores para o jogo de hoje que me davam aquilo que eu precisava, pensei nisto assim que o Savarino se lesionou, porque percebi que o Patrick não dava ali, não consegue jogar de costas para o jogo. Então fui à procura de alguém e dentro das características é o Artur. Não me surpreende o jogo que ele fez, mas não vamos já ter a tentação de dizer "o Artur vai substituir o Savarino". Também são diferentes, também não tem nada a ver. O Savarino é um 10, o Artur pode ser um segundo atacante, são coisas completamente diferentes. O que o Textor me pede aqui é encontrar um substituto para o Luiz Henrique? Não, potência a contratação que nós trouxemos para este lado, para esta posição da equipe. Só isto.
Desfalques
— Não consigo te dizer (quando voltam), mas não será para os próximos jogos, certamente. Falo de Savarino, Barboza e Matheus (Martins). Não serão para os próximos jogos. Pelo menos Flamengo e Estudiantes, não
Melhores resultados em casa na Era SAF
- É uma equipe ainda com duas caras. Não joga em casa da mesma forma como joga fora, e não tem os resultados em casa da mesma forma que tem fora. Isso é da nossa responsabilidade de corrigir. Com a nossa torcida apoiando os jogadores, incentivando, é uma torcida que mesmo quando as coisas não correm bem durante o jogo, não pressiona os jogadores com insulto. Não, que os dê carinho e que lhes dê apoio pelo menos enquanto a bola rola, depois que se manifeste como entenda. Mas de fato nós aproveitamos muito bem esta questão de jogar em casa. Talvez o piso sintético possa ter alguma influência. Apesar de nós só treinarmos aqui na véspera do jogo, estamos sempre a treinar em gramado natural. Mas sinto que é o conforto dos jogadores, de conhecerem bem o estádio, de terem a sua torcida, de jogar em casa. Isso é o copo meio cheio, o copo meio vazio é que temos que transportar isso para jogar fora. Só não estamos mais altos na classificação porque fora não temos nem tido essa qualidade, nem essa eficácia.
Mandante indigesto
- Que estejamos mais constantes na performance, na exibição, mas que ganhemos, porque de fato é imperativo ganhar, não é? E também é importante os adversários olharem para isto e dizerem: "Ui, vamos ali jogar, e aquilo não é fácil". Porque os números daquela equipe em casa já condicionam um bocadinho o adversário. Portanto, é sempre bom ir para estes jogos com esta confiança em alta, mas para jogar, não com a confiança em alta pensando que vamos chegar aqui só porque jogamos em casa vamos ganhar. A gente tem que trabalhar, tem que manter a mesma postura ou melhorá-la.
Kauan Lindes
- O Kauan é uma grande descoberta do nosso scouting, e eu tenho fé e esperança que se ele quiser vai ser um nome importante. Porque é um garoto muito talentoso, tem muita qualidade e joga naquela posição de 10. Nós temos que ir colocando-o com cuidado e acima de tudo perceber como está o ambiente. Dar-lhes conforto quando eles entram, porque depois eles lá dentro se desenrolam. E não olhar para este garoto como o salvador da pátria porque ele ainda não está preparado para isso. Tem muito talento, com muita capacidade, hoje aqui vi detalhes muito interessantes, precisa de continuidade, obviamente, de regularidade. Aproveitou a oportunidade, agora é continuar a trabalhar sério e aos poucos entrar porque vai nos dando confiança. Aquilo que ele fez não me surpreende porque vejo fazer nos treinos. Agora é ele fazer o seu caminho e eu aqui estarei para o ajudar a dar oportunidades. E se calhar o próximo passo já não é pôr num contexto tão favorável, é lançá-lo num contexto um bocadinho mais difícil, e que ele dê respostas. Porque a porta se abre, mas são eles que depois fazem o caminho. Nós abrimos a porta e deixamos aberta ou fechamos em conformidade com o caminho que eles fazem.
Assista a coletiva de Renato Paiva abaixo: