Renato Paiva durante PSG x Botafogo no Estádio Rose Bowl - Foto Reprodução: Vítor Silva/Botafogo
O atual campeão da Libertadores 2024 bateu o campeão da Champions League da temporada de 2024/2025. O Alvinegro venceu o PSG por 1 a 0, com gol de Igor Jesus no primeiro tempo, e assumiu a liderança isolada do grupo B, com seis pontos em dois jogos.
O técnico do Botafogo, Renato Paiva, que dedicou o resultado a todos os treinadores que trabalham no futebol brasileiro, disse que o Alvinegro fez partida perfeita taticamente e venceu uma "máquina". Para ele, a melhor equipe do mundo. Mas que, nesta quinta-feira, sofreu com a eficiência brasileira.
Assista abaixo:
- Claro que, no futebol, há sempre uma possibilidade de ganhar em um jogo deste. A história do futebol diz isso e eu disse antes que o cemitério do futebol está cheio de favoritos. Hoje voltou-se a provar. Uma das prioridades deste grupo e deste treinador é se blindar do exterior e trabalhar em função das suas ideias, das suas filosofias, do conhecimento dos seus jogadores. Era uma questão de acreditar, sinceramente, e acreditar porque não é o exterior que nos define. Nos fechamos ao exterior, porque depois daquele momento (da estreia de 2 a 1) era tudo negativo, era a teoria do caos.
- Nós fizemos um jogo em que, taticamente, fomos perfeitos. Irrepreensíveis. Paris Saint-Germain, não teve todas aquelas oportunidades flagrantes. Teve muito a bola, de fato teve, mas nós fomos muito solidários. Quando saí do campo, disse: fizemos o Paris Saint-Germain beber do seu próprio veneno.
A frase de efeito se justifica porque, para Paiva, o Botafogo reproduziu o que há de melhor no PSG.
- Nós hoje fomos aquilo que o PSG tem sido nos últimos tempos. Uma verdadeira equipe, e não foi a primeira vez que somos. Atacamos todos, defendemos todos. Deslizamos todos para a direita, deslizamos todos para a esquerda. Fomos todos para a frente e fomos todos para trás. Era a única forma de nós nos equivalermos com eles. A partir daí, depois, também o talento dos nossos jogadores. Porque os nossos jogadores têm muita qualidade. Foi um jogo estratégico, sabíamos como ia ser.
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História e preleção
- Esta vitória é dedicada à gigantesca torcida do Botafogo. Cada vez que esta equipe faz um feito deste gênero, orgulha a torcida do Botafogo. Isso é histórico. Há jogos especiais. Mesmo que não ganhemos mais do que três pontos e que nem sequer qualificados estejamos. Obviamente a nossa torcida hoje está muito orgulhosa. Isso para mim é histórico. Cada vez que eles ficam orgulhosos com o trabalho destes jogadores, para mim é histórico. Depois, claro, é histórico por várias coisas. Era confronto dos continentes. Eu estou muito feliz pelo Brasil, pelo país, pelo jogador brasileiro, pelo treinador brasileiro, pelo treinador estrangeiro que trabalha no Brasil. Estavam em campo o confronto entre o vencedor da Champions League, que tinha vencido há três semanas, e o clube detentor da Copa Libertadores. Mas com metade dessa equipe que praticamente não está mais aqui.
- O último slide antes de sairmos do hotel foi colocar a taça da Liga dos Campeões e a Libertadores. E eu lhes disse: "o mundo vai dizer que joga quem ganhou a Champions com quem ganhou a Copa Libertadores". E o slide a seguir foi este grupo, porque este grupo tem o trabalho de muitos jogadores que chegaram depois. Mérito para os que ganharam essa Copa Libertadores, mas hoje já somos um grupo diferente. E eu lhes disse, "é quem ganhou a Champions contra este grupo de trabalho". E essa foi de fato a nossa maior vitória. A nossa maior vitória sendo nós próprios. Disse a eles: "não percam a oportunidade de mostrar para o mundo que são vocês mesmos" (aqui). E hoje de fato foram. E isto faz de mim, um treinador absolutamente orgulhoso.
- Na minha opinião, vencemos a melhor equipe a jogar futebol no mundo, neste momento. Porque é mais completa em todos os momentos. Não é por ser espetacular, é porque em todos os momentos do jogo ela é muito completa. Tens de ser inteligente ao jogar contra eles. Entendemos os últimos jogos e muita gente que jogou contra eles... na final da Liga dos Campeões, foi o que foi. Então nós tínhamos de ser muitíssimo inteligentes. Tínhamos um plano tático e estratégico que era o que fizemos a cumprir. Disse: "possivelmente vamos ter menos a bola e é preciso ter essa capacidade e essa resiliência, mas depois eu só peço a vocês, quando tiverem bola, tentem ser vocês mesmos e apliquem os princípios do treino". E foi isso que nós fizemos.
Elogio de Luis Enrique
- É uma das referências para mim e eu acho que é uma das referências para os treinadores a nível mundial. Pela pessoa que é, pelo diferente que é e por este PSG. Eu já disse que é uma história muito bonita, pois fez com que o PSG ganhasse o que não tinha ganho antes. E de fato é a análise de um treinador que mais uma vez tem a humildade e a frontalidade de dizer aquilo que aconteceu. Nós obviamente tínhamos que ser perfeitos a defender. Se sabíamos como o PSG gosta de atacar, não podíamos deixar os jogadores em situações de um contra um. Tínhamos que fazer a nível defensivo sempre dois contra um, de preferência. Não fizemos marcações individuais, seria um erro, seria uma catástrofe, diante das análises que eu fiz dos últimos jogos do PSG.
Marcação por zona
- As perseguições individuais seriam uma catástrofe para nós. E também não é a forma como eu vejo o jogo. Eu vejo o jogo em questões defensivas de forma zonal. Não houve oportunidade assim escandalosa que o PSG tenha tido. Foram cruzamentos e por aí afora. Mérito dos jogadores, porque não é fácil os jogadores deste nível não terem (chances). Eles demonstram um conhecimento tático do jogo, uma resiliência até importante para nós. Eu vejo com orgulho essas palavras (do Luis Enrique, que disse que o Botafogo foi a equipe que melhor se defendeu contra o PSG), porque é mais um passo no nosso trabalho, no trabalho dos jogadores, no meu trabalho.
- Foi de fato uma exibição muito boa, muito completa. Gostaria de ter tido mais a bola, gostaria de ter atacado mais, mas não é possível porque esta equipe é uma máquina de atacar e defender e de transições e nós fomos, de fato, muito inteligentes, muito rigorosos naquilo que nós planejamos.
Reação depois do jogo com o Seatlle
- Normalmente este grupo reage muito bem a momentos negativos. Quando acabamos o jogo com o Seattle, foi para nós um momento negativo. Mas entrei no vestiário e vi uma equipe que parecia que não perdia o jogo e eu disse: "Fantástico, é um vestiário de campeões". Normalmente eles me dão a resposta ou após uma derrota ou após um mau momento, ou mesmo durante o jogo. Nós ganhamos de 2 a 1, mas parece que só foi negativa (a repercussão). E a partir disso, nós já não éramos favoritos e passamos a ser massacrados para toda a gente. No último jogo, não foi possível a exibição, foi só a vitória. Hoje foi a vitória da exibição e, portanto, os bastidores deixam-se sempre a esta lição para o exterior. Nós somos nós. Somos nós que nos definimos, somos nós que nos conhecemos, não o exterior.
Homenagem a técnicos do Brasil
- É a qualidade dos jogadores brasileiros, do que as pessoas vêm fazendo no Brasil, especialmente os técnicos. Acho que essa é uma vitória dos técnicos que estão trabalhando no Brasil, os brasileiros e os estrangeiros.
Jogo contra o Atlético de Madrid
- Mais uma montanha para escalar. Eles são um grande time. Eles mostraram isso também. Embora, deixe-me dizer, o Seattle tenha jogado um jogo difícil, tornou difícil. É um time que o Diego Simeone construiu há muito tempo. Tem um DNA muito claro, tem valores individuais extraordinários e, como equipe, também sabemos como são os times de Simeone. Então, descanse, recupere-se, aproveite esses momentos imediatamente após este jogo. Pode ser muito fácil cair e não continuar. Eu não quero isso. Quero que tudo isso valha a pena, vencendo o próximo jogo contra o Atlético.
Subestima-se o futebol brasileiro?
- Acho que subestima-se um pouco do que é o futebol no Brasil e da qualidade do Campeonato Brasileiro. Só quem está lá e quem acompanha entende o quão difícil é jogar naquele campeonato. Você joga dez partidas por mês, joga de três em três dias... Os times são bons, os jogadores brasileiros continuam muito bons, os técnicos são muito bons, os brasileiros e os que chegam tentam dar o seu melhor. E a realidade é que a competição no calendário é tão dura que te obriga, como treinador, a ter mil estratégias para gerir um grupo, a gerir o planejamento físico, técnico, tático e psicológico, para que você jogue de três em três dias e não possa treinar. E esse é um problema muito grande, e eu já disse isso várias vezes.
- O maior problema do futebol brasileiro é que há pouco treino e mais jogo, e isso está ligado a não desenvolver melhor os jogadores, porque eles crescem treinando, na minha opinião. Então, quem conhece e acompanha o Campeonato Brasileiro sabe que é um dos mais difíceis do mundo, um dos mais competitivos do mundo. O último time vence o primeiro facilmente. Sempre são cinco, seis, sete times disputando o título. Como eu já disse, você vai para a Copa Sul-Americana e a Libertadores, e você vai ver quem ganha nos últimos anos. Hoje, o Ancelotti se junta à seleção, o que é, para mim, uma conquista extraordinária para o futebol brasileiro.
- Eu não acho que seja necessário que os quatro times nesta competição sejam bem-sucedidos para você dizer: "Nossa, no fim das contas, o futebol brasileiro é de primeira linha". Eu não estou nem um pouco surpreso com o que está acontecendo, nem um pouco. Então, não tem escolha, não tem vingança, não tem injustiça. Vocês têm que chegar e dizer, senhores, que o futebol brasileiro tem muita qualidade de todo mundo que trabalha lá. Jogadores, técnicos, todo mundo que trabalha no futebol brasileiro. Quem chega e começa a perceber, diz: como é possível trabalhar com tanta dificuldade? E isso nos torna muito fortes, porque a facilidade não faz você crescer, mas a dificuldade faz muito. Então, estamos lá para competir, vamos competir, e depois veremos como termina o campeonato.
Recuperação particular de Paiva depois do México
- O menos importante sou eu. Este escudo e esta equipe são grandes demais para que eu possa falar sobre mim. Acho que os fatos falam por si. Não há equipes que não tenham momentos ruins, que não tenham uma partida menos boa, que não tenham uma situação como esta. Mesmo que o PSG perca hoje, não perde sua qualidade e sua grandeza como equipe. E naquele momento, eu também disse que algo aconteceu, mas tínhamos que seguir em frente e continuamos fazendo um ótimo trabalho no Toluca (no México). Então, como sempre digo, acredito profundamente no meu trabalho, acredito profundamente na maneira como trabalho, que nem sempre vou ganhar, nem sempre vou avançar para os playoffs. Mas, com o tempo, sempre acredito que estou certo, porque ganhar mais, ter momentos como estes, e é isso que me dá vontade de trabalhar.
- Não é uma vitória do Renato. É uma vitória para o segurança que nos abre a porta de manhã no centro de treinamento, para o homem que nos faz um check-up, para o homem que trata o campo, para os diretores, o nutricionista, os médicos, para todos. O Botafogo é muito grande, mas é uma família, e isso nos une e nos faz trabalhar todos pelo mesmo objetivo. Então é uma vitória para o Botafogo e para todas as pessoas que trabalham todos os dias para que este grupo de jogadores não tenha mais nada para fazer além de treinar e jogar. E isso é algo que já estava feito quando cheguei. Acabei de chegar e me adaptei ao que estava lá. E, claro, dou a minha contribuição para que este trabalho continue tão bom quanto foi no último ano, especialmente.
Crescimento do Botafogo
- A fórmula é ter os 30 jogadores que eu tenho lá. Estrelas em todos os níveis, técnica, tática, emocional e psicologicamente. Eles são campeões e provam isso em campo. Eles não são apenas campeões, eles vencem. Este é o décimo terceiro jogo consecutivo; desses, vencemos 10. Perdemos dois e empatamos um jogo competitivo com o Flamengo. Então, com 23 gols marcados e oito sofridos. Há muito trabalho envolvido, mas também há o meu trabalho e o da comissão técnica. Fazemos os jogadores acreditarem no nosso trabalho, acreditarem neles mesmos. O segredo é acreditar que é sempre possível, sempre, porque antes da bola começar a rolar, quem ganha sempre ganha no restaurante, ganha em casa, ganha na televisão, mas depois, em campo, são os que realmente ganham.
- Há muitas opiniões sobre muitas coisas. Hoje mesmo eu estava assistindo ao jogo do Seattle contra o Atlético de Madrid e pensei: "quando o time do Botafogo ganha, os outros são sempre ruins, são sempre fracos. Não, não, eles não são bons" E hoje eu estava assistindo ao Seattle dividir o jogo com o Atlético de Madrid. Suas chances de fazer mais gols. No primeiro tempo o Atlético de Madrid estava ganhando por 1 a 0, o Seattle teve mais chutes no gol do que o Atlético de Madrid, do que nós no primeiro tempo, mas o que fica é que: "Não, o Botafogo venceu porque o Seattle é soda" .