Em coletiva antes de Palmeiras x Botafogo na Copa do Mundo De Clubes 2025, técnico do Botafogo Renato Paiva critica ¨futebol versão Walt Disney¨ e pede que Fogão tenha mais posse de bola contra o Verdão

 

Os primeiros objetivos do Botafogo na Copa do Mundo de Clubes 2025 foram cumpridos. O clube se classificou na fase de grupos e agora se prepara para disputar, às 13h (de Brasília) deste sábado, as oitavas de final contra o Palmeiras. Para o técnico Renato Paiva, o Alvinegro chega mais respeitado ao mata-mata. Mesmo assim, o treinador Português criticou o que chamou de "futebol Walt Disney", expressão escolhida para resumir expectativas irreais no esporte mais popular.



Assista abaixo: 


— Era normal o mundo do futebol ter desconfiança porque não olham para a liga brasileira (...) Hoje em dia, com internet e tudo, há dois tipos de futebol: o da vida real e o Walt Disney. Na vida real, nem sempre pode jogar da mesma forma porque não é permitido, seja porque o adversário é bom ou te dá dificuldades. No Walt Disney, temos que jogar com todos no ataque e amassar o PSG e Atlético de Madrid. Encontrei com um torcedor e ele me disse que poderíamos ter vencido o Atlético caso fossemos mais ofensivos. Eu perguntei quantas vezes ele viu o Atlético esse ano e ele disse nenhuma. Está respondido — disse Paiva, acrescentando:


— Isso é o futebol Walt Disney. Muito orgulhoso com aquilo que fizemos. Foi o grupo mais difícil de todos e nós fizemos seis pontos. Estamos orgulhosos de estar aqui. O trajeto é muito bonito e já disse aos jogadores que não dá para continuar na sombra de termos ganhado do PSG e acabou. Foi fantástico, mas acabou. Queremos ganhar do Palmeiras


Ao falar sobre o jogo decisivo contra o Palmeiras, Paiva reforçou o desejo de ver um Botafogo "equilibrado e completo". O principal pedido do técnico português é que o Alvinegro aumente o controle da posse de bola em comparação aos jogos do grupo B da Copa do Mundo:


— Aquilo que eu tenho que fazer em qualquer jogo, seja eliminatório ou não, é vir estudado. O que é isso? Ter o Plano A e depois conseguir antecipar situações, que pode ser uma expulsão contra ou a favor. (...) Nós tentamos planejar tudo mas o jogo você nunca consegue controlar tudo. Se o Botafogo vai ser mais ou menos (ofensivo)... Eu espero que o Botafogo seja equilibrado e completo. Analisando o torneio, falta um pouco controlar a bola. Quero melhorar para o jogo de amanhã, ter mais bola para tentar conseguir o Palmeiras. Espero uma equipe completa.


O técnico também definiu Jair como dúvida para Palmeiras x Botafogo. O zagueiro não tem lesão, mas perdeu parte do treino desta sexta-feira por sobrecarga muscular. A escalação alvinegra deve ter o retorno de Cuiabano em funções ofensivas; Gregore cumpre suspensão automática pelo segundo amarelo.


— É dúvida, é um fato, é dúvida. Esperamos que ele consiga recuperar, estamos a trabalhar nisso. Ele e o Barboza têm feito uma dupla importante nas sinergias em que eles se encontram no jogo e, portanto, já estão muito identificados um com o outro. Não tem absolutamente nada a ver com o Kaio (Pantaleão), mas o que tem a ver com o Kaio é esta identificação que o Barboza e o Jair têm, que o Kaio ainda não tem, que vai tendo com os treinos desde que chegou e que não são assim tantos. Portanto, vamos tentar fazer com que o Jair jogue.


— Se não jogar, eu terei que pensar se será o David (Ricardo), se será o Kaio, que tem as suas coisas boas e mais. Dois zagueiros de pé esquerdo, o que influencia a minha saída de bola. Se jogar o David, o Kaio tem essa questão de estar menos identificado. Mas também é um jogador com muita experiência e com uma trajetória já internacional interessante, e que naquilo que é a questão física e disponibilidade para o jogo está muito bem. Agora é isto, nós percebemos, fazemos uma análise e eu ainda tenho até amanhã para decidir isso e portanto vamos ver o que é que vai acontecer.


— Foi um pouco disso. Era universal, normal e esperado. Nosso grupo tinha PSG, o campeão europeu, apesar de seremos o campeão da Libertadores, mas tivemos algumas mudanças e no PSG não, e o Atlético de Madrid. Era normal o mundo do futebol ter desconfiança porque não olham para a liga brasileiro. Me choca mais quando é dentro do Brasil. A dicotomia entre "os outros são favoritos" e "eu quero que o Botafogo perca porque torço para outro clube". Em Portugal eu torcia para todos os portugueses se darem bem. Eu preferiria ter outro tipo de confronto para que os quatro brasileiros seguissem e que as semifinais fossem só de brasileiros. Falei para meus jogadores terem consciência do que são, do que fazem e fiz questão de transmitir para fora, a questão de subir montanhas, do cemitério de favoritos... Eram mensagens para fora mas que eu falava dentro. Hoje em dia, com internet e tudo, há dois tipos de futebol: o futebol da vida real e o da Walt Disney. Na vida real, nem sempre pode jogar da mesma forma porque não é permitido, seja porque o adversário é bom ou te dá dificuldades. No Walt Disney, temos que jogar com todos no ataque e amassar o PSG e Atlético de Madrid. Encontrei com um torcedor e ele me disse que poderíamos ter vencido o Atlético caso fossemos mais ofensivos. Eu perguntei quantas vezes ele viu o Atlético esse ano e ele disse nenhuma. Está respondido. Isso é o futebol Walt Disney. Muito orgulhoso com aquilo que fizemos. Foi o grupo mais difícil de todos e nós fizemos seis pontos. Estamos orgulhosos de estar aqui. O trajeto é muito bonito e já disse aos jogadores que não dá para continuar na sombra de termos ganhado do PSG e acabou. Foi fantástico, mas acabou. Queremos ganhar o Palmeiras.


Risco de prorrogação nas oitavas:

— Me preocupa. Seja para nós, o Brasileirão é o acúmulo de jogos, jogamos de três em três dias mais a viagens longas, ainda mais com a Libertadores. As equipes europeias estão em final de temporada. A prorrogação vai ser algo pesado para os jogadores e torcedores porque a qualidade do jogo vai cair. Você arrisca menos. Gostaria que não tivesse, sendo sincero.


Planejamento para o jogo contra o Palmeiras:

— Aquilo que eu tenho que fazer em qualquer jogo, seja eliminatório ou não, é vir estudado. O que é isso? Ter o Plano A e depois conseguir antecipar situações, que pode ser uma expulsão contra ou a favor. Se começa ganhando, perdendo... Isso sempre está na minha cabeça. Se lesiona este ou aquele jogador, quem eu posso substituir. Isto é o pré. Só que o pré nem sempre funciona porque quando o árbitro apita o jogo tem uma vida própria. O jogo por vezes caminha para outro lado. Os planos te ajudam a tomar decisões. Nem sempre as coisas preparadas te ajudam a controlar as coisas. Nós tentamos planejar tudo mas o jogo você nunca consegue controlar tudo. Se o Botafogo vai ser mais ou menos (ofensivo)... Eu espero que o Botafogo seja equilibrado e completo. Analisando o torneio, falta um pouco controlar a bola. Quero melhorar para o jogo de amanhã, ter mais bola para tentar conseguir o Palmeiras. Espero uma equipe completa.


Pensa em formas de parar Estêvão?

— Penso. É o coletivo. Haverá situações de um contra um para ele. Pode ser em 10 metros ou em 5. Quero que minha equipe faça uma cobertura. Mas pode ser o Estêvão, Vitor Roque, Rios... Todos os jogadores têm qualidade, até os zagueiros. Se entrar no individual, um contra a um, já foi. É preciso ser no coletivo. Contra o PSG, se eu fosse me preocupar com o Barcola, Vitinha, Kvara... Não. Me preocupei com todos juntos. Depois, tenho que pensar em potencializar todos. Se o Estevão cair contra o Alex Telles, tenho que procurar coberturas para ajudá-lo.


Formas de entrar na cabeça de Abel Ferreira:

— É impossível. Mas vendo o Palmeiras jogar, existem nuances que estou preparado. Nisso, não tento olhar muito para individualidades. O que eu tento contrariar é valorizar o coletivo do Palmeiras, sabendo que se ele não tiver o Estevão por fora e sim por dentro vão acontecer algumas coisas e não outras. E o Abel vai fazer o mesmo. Se o Jair não jogar, ele vai mudar coisas. Aí entra a questão do plano A, B, C.


Jogadores do Botafogo que passaram pela MLS:

— MLS é um campeonato que está se desenvolvendo ano após ano. Eles estão conseguindo melhores jogadores. Hoje, eles têm Messi, o que seria impossível pensar há cinco anos. Algo bem importante é descobrir jogadores que não são tão conhecidos na Colômbia, Portugal e até no Brasil... Atletas que não atuam regularmente em seus país e aqui jogam com regularidade. Olheiros estão olhando cada vez mais para a MLS por causa de jogadores como Almada e Facundo Torres. Não fico surpreso com isso, acho que eles vão se desenvolver ainda mais, mesmo que o futebol não seja a principal cultura aqui. A criança aqui quer ser jogador de basquete ou beisebol antes de futebol. É uma luta contra a própria cultura, mas estão evoluindo.


Mensagem de Abel após vitória sobre o PSG:

— Mandou uma mensagem. Nós trocamos mensagens quando ele ganhou a Libertadores. Falei que era um orgulho para o treinador Português. Quando ganhou a segunda disse que o difícil era continuar ganhando. Naquele jogo inacreditável, da virada de 4 a 3, elogiei o espírito daquela equipe, que nada é impossível para eles. Ele me mandou uma mensagem agora com as mesmas condições. Sendo um treinador Português, é um feito importantíssimo para o futebol Brasileiro (vitória contra o PSG), peço perdão pela confidência. Esses momentos me deixam felizes por ser reconhecido por pessoas que têm um nível muito alto. Ele sabe que meu grupo é difícil de derrubar. Eu elogiava a atitude do Palmeiras e cheguei em uma equipe que tem a mesma. Encaramos adversidades com sorriso, eles não têm medo de nada. Ele me disse que foi uma grande vitória do futebol Brasileiro.


Relação com John Textor, dono da SAF do Botafogo:

— Não sei (se ele vem). Minha relação com ele é muito boa. Ele é o dono, me escolheu como treinador e desde então temos ótima relação. Ele quer saber coisas sobre o elenco, como o time joga, e isso é normal. Jogadores que vêm, que saem. É um ótimo relacionamento.


O que tirar dos jogos entre Botafogo e Palmeiras nos últimos anos?

— Dentro e fora do campo, rivalidade. Que a rivalidade seja dentro de um contexto desportivo. Ninguém é inimigo de ninguém. As duas torcidas fazem espetáculos fantásticos. Estou muito orgulhoso de liderar uma equipe com uma torcida como essa. Espero que venham ao estádio para desfrutar. Podem xingar os treinadores, não há problema, e que no fim saibam ganhar e saibam perder. É só um jogo de futebol. É uma prova nova, a Copa do Mundo. Que sirva para que os treinadores façam um espetáculo, e acabe em 11 contra 11, sem lesões. Que ganhe o melhor e que ambos, dentro do campo, deem o exemplo em saber perder e saber ganhar. Isso vai lá para fora. Somos exemplos do que vai lá para fora. É uma realidade não só do futebol, mas da sociedade. Se tiver 50 coisas boas e uma má, você foca na ruim. As redes sociais aumentam isto de uma forma anônima. Essa é a parte do Walt Disney, mas estou fechadíssimo a isso. Que seja um grande espetáculo. As lições são que são duas equipes, organizadas, com características fincadas. Eu acho que vai ser um grande espetáculo para treinadores, acho que não vai ser um grande espetáculo para os torcedores... Que todos saibam perder e ganhar. No final, alguém continuará representando o futebol brasileiro. Que o Flamengo e o Fluminense passem. É isso que eu desejo. O futebol brasileiro precisa de mais autoestima. Falo como estrangeiro que trabalha no país do futebol, se valoriza muito pouco o futebol. Sempre falamos do que está mal, ninguém valoriza o que está bem. Parece surpresa para alguns (Botafogo passando). Para fora, até aceito. Para dentro, não consigo aceitar. Fica a dica. Valorize mais aquilo que o Brasil tem. Infelizmente, vai ficar uma equipe brasileira amanhã, vou torcer o máximo possível para que chegue ao máximo de brasileiros na semifinal.

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