Em entrevista coletiva após a vitória sobre o Ceará, Renato Paiva afirmou que a boa fase do Botafogo tem a ver com paciência e tempo de trabalho depois de um início de turbulências. O treinador enalteceu os resultados em casa e se disse orgulhoso do time na última partida antes da Copa do Mundo de Clubes 2025.
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— É o resultado da paciência que muitas pessoas têm para analisar esse tipo de trabalho. Não sei por que o trabalho do treinador tem de ser analisado de uma forma diferente de um profissional de uma área qualquer, como os jornalistas, onde acham que tem que dar tempo para que cresçam com experiência e trabalho. O começo foi relativamente difícil, é verdade. Mais difícil jogar fora do que em casa. Voltamos a confirmar aquilo que temos sido em casa. Parece que é o melhor começo em casa desde que o John Textor assumiu. Nos deixa orgulhosos — afirmou o treinador.
— São dados que confirmam que é preciso paciência para treinadores passarem ideias e para os jogadores se adaptarem a isso e ao clube. Isso não se faz em um estalar de dedos, mas treinando. É um problema que todos temos no Brasil de treinar pouco, mas paciência. É assim que é. Dentro disso vamos encontrando soluções para fazer a equipe crescer dentro da competição. As coisas poderiam correr melhor, poderíamos estar melhor classificados na Série A, podíamos ter avançado com menos dificuldade na Libertadores. Mas orgulhoso pelo trabalho que os jogadores estão fazendo de acreditar na nossa ideia, no trabalho, neles mesmos, que é possível continuar no topo — completou.
O Alvinegro agora volta suas atenções para a Copa do Mundo de Clubes, competição na qual fará sua estreia no próximo dia 15. O adversário será o Seattle Sounders, dos Estados Unidos. O Glorioso também vai enfrentar Paris Saitns-Germain e Atlético de Madrid na primeira fase.
— Se tivéssemos medo, ficávamos aqui em casa e não iríamos. Se trabalhamos uma ideia até agora, por que vamos mudar? Você não vai conseguir uma ideia em cinco ou seis dias só porque vai jogar o Mundial. Nossa maior vitória é ser quem somos, perceber o clube e o país que vamos representar. Esse peso temos que assumir e assumimos com muito bom gosto. Vamos olhar os jogos. Vamos ser ofensivos? Quando tivermos a bola, vamos. E neste jogos vai haver momentos em que não vamos ter a bola e vamos ter que saber jogar. É isso que eu quero, temos que ser quem somos independentemente do adversário que vier pela frente.
Apesar dos elogios, Paiva fez algumas críticas à atuação da equipe na vitória por 3 a 2 no Estádio Nilton Santos. O técnico admitiu que não foi uma exibição extraordinária, mas suficiente.
— Paciência é uma coisa e passividade outra. Paciência é para entrar em zonas onde não devemos entrar, passividade é ficar muito tempo com a bola no pé e circular devagar. Isso não fará mal a nenhum adversário. O gol aparece ainda no primeiro tempo, no segundo melhoramos nesse aspecto. Depois sofremos com a eficácia do Ceará, que fez três arremates no gol e dois gols. Poderíamos ter tido isso e não tivemos. Deveríamos aguentar o jogo e não aguentamos. Tivemos alguns erros defensivos. Falei agora mesmo com os jogadores sobre isso. Somamos três pontos. Era o que queríamos. Não com uma exibição extraordinária, mas uma exibição suficiente outra vez para ganhar sem sofrer — avaliou o treinador.
A partida marcou a despedida de Igor Jesus, que vai para o Nottingham Forest, da Inglaterra, mas ainda joga a Copa do Mundo de Clubes pelo Alvinegro. Renato Paiva falou sobre o atacante e afirmou que não terá problemas para motivá-lo durante o torneio nos Estados Unidos, mesmo que ele deixe o clube logo depois.
— Não conversei com ele. Por que vou falar de despedidas se ele ainda não foi embora e tem uma responsabilidade pela frente de representar o Botafogo em um Mundial de Clubes? Como o mantenho motivado? É simples, Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Não tem motivação maior para jogadores ou treinadores que disputar uma competição desse peso e dimensão. Não vou precisar... em questão de motivação para esses três jogos sabe como vou estar? Tranquilo. São jogos que não precisa motivar, precisa trabalhar o lado técnico e tático porque vão jogar para o mundo inteiro. Motivação tem de sobra. O Igor todos conhecem. Ele foi a procura do gol, não se omitiu, não se escondeu. Esse é o Igor Jesus de sempre. Essa é a maior vitória que temos e é o que eu quero para o Mundial: que sejamos nós mesmos. Em motivação para este torneio estou tranquilíssimo.
O jogo desta quarta-feira foi atrasado da 10ª rodada do Brasileirão. Com a vitória consecutiva (já havia vencido o Santos na rodada passada), o Botafogo chegou aos 18 pontos e subiu para a sexta colocação na tabela, com a mesma pontuação do Bahia - mas com vantagem nos gols pró.
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Momento e jogo
— É o resultado da paciência que muitas pessoas têm para analisar esse tipo de trabalho. Não sei por que o trabalho do treinador tem de ser analisado de uma forma diferente de um profissional de uma área qualquer, como os jornalistas. É analisado como tendo que dar tempo para que jornalistas, médicos etc cresçam com experiência e trabalho. O começo foi relativamente difícil, é verdade. Mais difícil jogar fora do que em casa. Voltamos a confirmar aquilo que temos sido em casa. Parece que é o melhor começo em casa desde que o John Textor assumiu. Nos deixa orgulhosos. São dados que confirmam que é preciso paciência para treinadores passarem ideias e para os jogadores se adaptarem a isso e ao clube. Isso não se faz em um estalar de dedos, mas treinando. É um problema que todos temos no Brasil de treinar pouco, mas paciência. É assim que é. Dentro disso vamos encontrando soluções para fazer a equipe crescer dentro da competição. As coisas poderiam correr melhor, poderíamos estar melhor classificados na Série A, podíamos ter avançado com menos dificuldade na Libertadores. Mas orgulhoso pelo trabalho que os jogadores estão fazendo de acreditar na nossa ideia, no trabalho, neles mesmos, que é possível continuar no topo. Chegaram, mas o mais difícil é continuar e é isso que queremos. O jogo começou com o adversário com a linha de cinco, circulação de bola lenta da nossa parte e sem mover muito o bloco do adversário. Portanto, nos custou a gerar situação de finalização. Depois criamos. Temos uma bola do Igor que o goleiro faz uma grande defesa, uma bola na trave, vamos somando oportunidades sem ser avassaladores, mas também sem sofrer muito. Controlamos bem as transições o ataque controlado do Ceará. Na segunda parte acertamos algumas coisas no intervalo, posicionamentos, e, acima de tudo, uma circulação de bola mais rápida. Estávamos com a bola no pé muito tempo. Paciência é uma coisa e passividade outra. Paciência é para entrar em zonas onde não devemos entrar, passividade é ficar muito tempo com a bola no pé e circular devagar. Isso não fará mal a nenhum adversário. O gol aparece ainda no primeiro tempo, no segundo melhoramos nesse aspecto. Depois sofremos com a eficácia do Ceará, que fez três arremates no gol e dois gols. Poderíamos ter tido isso e não tivemos. Deveríamos aguentar o jogo e não aguentamos. Tivemos alguns erros defensivos. Falei agora mesmo com os jogadores sobre isso. São coisas que trabalhamos e o que trabalhamos tem que aparecer no campo. Isso é mais um reforço de acreditar no que trabalhamos. Quando fazem bem, sofremos menos. Hoje sofremos dois gols, algo que só aconteceu contra o São Paulo, e gols completamente evitáveis. Somamos três pontos. Era o que queríamos. Não com uma exibição extraordinária, mas uma exibição suficiente outra vez para ganhar sem sofrer.
Momentos preferidos no Botafogo
— Os momentos que eu posso me recordar são a primeira vez que eu me sentei aqui. Foi um momento marcante, de chegar numa instituição dessa grandeza e poder representar um clube dessa dimensão. Orgulho enorme. Depois foi acreditar no meu trabalho e saber que as coisas iam acontecer. Os momentos difíceis, para alguns, mata, para outros cria casca, resiliência. E eu já tenho alguns porque são 23 anos nessa profissão, embora muitos pensem que não. Os momentos preferidos são aqueles que às vezes vocês não veem, de crescimento individual. Quanto tu sentes que no dia a dia o grupo está cada vez mais grupo. Estes indicadores são momentos que me deram a confirmação de acreditarmos no nosso trabalho. Nos momentos de dificuldade em que ficamos sem jogadores, ficamos com 10, as coisas não funcionaram tão bem, encontramos soluções em cima dos problemas que apareceram. Substituições que funcionaram, mudando os jogadores de funções... Só funcionam porque eles (jogadores) são muito grandes, porque são um grupo extraordinário, jogam muito bem. Esses pequenos passos vêm confirmando isso, nos fazem crescer e nos levam até onde estamos hoje. Um momento que me marcou mesmo, não vou mentir, foi quando a torcida nos recebeu no ônibus aqui no jogo (contra La U), a recepção do ônibus quando chegamos e depois tudo aquilo que fizeram no jogo, quando ficamos com um jogador a menos. A coragem que tivemos como equipe para irmos à procura da vitória, a capacidade deles de interpretarem o que queríamos. A torcida criou um cenário antes, durante e depois absolutamente inesquecível. Um momento de arrepiar foi esse.
Adaptação do Santi e do Mastriani
— Não estão (no nível que eu espero). Os dois pelo mesmo motivo: tiveram lesões no momento em que estavam em adaptação e crescimento. Santi, inclusive, teve uma lesão com uma recuperação mais demorada. Essa adaptação de quem vem de um campeonato de fora foi mais demorada. Quando contamos com o Santi, dando a ele mais minutos, teve a lesão. Ele se recuperou e é normal que tenha uma exibição irregular, uma insegurança nas situações de um contra um. Porque essa adaptação foi interrompida por uma lesão. O Mastri, pelo menos, já conhecia o futebol brasileiro, então teve uma adaptação mais acelerada. Quando nós o colocamos na partida contra o Fluminense, em que fizemos uma exibição de grande qualidade e ele também, acabou que ele se lesionou e teve o mesmo problema que o Santi. Parou e agora está voltado a se recuperar aos poucos. Na Vila Belmiro tive uma dúvida até o último momento se jogava com um 9 ou dois. Acabei decidindo jogar somente com um porque o Mastrini não apresentava plenas condições. Preferi colocá-lo mais a frente, com o jogo em andamento, do que pelo Santi desgastado. Portanto, tem essa questão de adaptação mas estão dando sinais de melhoras. Hoje o Santi cada vez mais solto e o Mastriani acabou fazendo um gol, que ele sabe fazer, que faz tanto aqui no Brasil.
Tomadas de decisão
— Não é que eu não me engane, todos erramos. O que eu digo é que, quando eu faço as coisas, há sempre um sentido. Nos planos de jogo, nas substituições, nos nomes que vão entrar, no treino. Há sempre um caminho no qual me dirijo. Eles funcionam ou não. Eu não tomo decisões porque sim. Eu sigo um caminho dada a minha experiência. Depois, normalmente somos chamados de burro no Brasil quando fazemos uma substituição. Se a substituição funciona, somos gênios. Isso é normal. Não são as outras pessoas que vão me definir, eu defino a mim próprio. Não tem ninguém que conheça melhor a mim.
Pensando em encaixar os reforços?
— Hoje eu vou me despedir do Igor... mas o Igor ainda vai jogar. Eu até perguntei e eles me informaram (risos). O Igor ainda vai jogar o Mundial de Clubes. Eu detesto despedidas e choro muito. Então para mim não há nenhuma despedida hoje. Amanhã quero ver o Igor e todos que aqui estão. E possivelmente vou ver alguns novos. Possivelmente. Ali dentro quem eu vi foi o Montoro, esse eu vi. Já foi apresentado, já é nosso jogador. Fantástico, pronto. A partir daí vou esperar que de fato venham jogadores em função dos que vão sair e das lacunas que o elenco tem. Não tenho dúvida de que, se vierem os jogadores que queremos, tenho certeza absoluta que teremos um Botafogo mais forte, mais experiente, com mais qualidade. Eu elogiei muito a contratação do Montoro. Dentro de campo ele jogou num campeonato muito difícil, numa camisa muito pesada como é o Vélez. É um jogador pronto? Longe disso. Tem que se adaptar e fazer seu caminho. Mas não há dúvida alguma de que essa direção e esse scout jogaram na antecipação. Havia duas joias na Argentina que jogam nas primeiras equipes, o Mastantuono no River Plate e o Montoro no Vélez. São duas joias muito jovens, mas que são jogadores que não geram dúvidas. Fizemos uma jogada de antecipação, e é aqui que temos que dar mérito a quem trabalha nesse clube. Os outros jogadores vão chegar, vão ter pouco tempo para conhecer o grupo, à pressa. Mas fazer o quê?
Seattle Sounders
— É mais uma linha de cinco. E nós temos disso muito competentes em dar a volta em linhas de cinco. Em especial em casa. O jogo é fora, na casa deles, vão ter a torcida deles. É uma equipe que tem suas especificidades. Mas nós somos o Botafogo, vamos olhar para essa competição... Vamos lá para ser nós mesmos. Se conseguirmos ser melhor que nossos adversários, fantástico. Se não conseguimos, mérito do adversário.
Entrada do Danilo no lugar do Mastriani
— A equipe estava demorando a fazer o gol. Depois tem aquele processo: não faz, não fecha o jogo, sofre o empate e temos de ir de novo atrás. Quando fizemos o gol, pensei que jogamos domingo com uma viagem e hoje já estamos jogando outra vez. Marlon, Gregore, Telles e Jair, são jogadores que estão jogando sempre. O Mastriani com desgastante ele já tinha feito 60 minutos, então houve um momento que eu quis ter uma equipe mais compacta. Sabia que o Ceará iria atrás do resultado e que abriria espaços. Optei colocar o Danilo ao lado do Gregore para fechar aquela porta de zona anterior, somado ao Marlon, que estava fresco. Pedimos para ele andar em zonas onde ele tinha acabado de fazer o gol e a partir daí jogar com agudos, com o Nathan, Arthur, com o Igor e esperar que o Ceará viesse.
Reencontro com jogadores com quem trabalhou
— Claro, eu observo o crescimento de todos os meninos com os quais tive o prazer de trabalhar. Eles fazem questão de continuarem ligados comigo. Antes da final da Champions, quando cheguei no vestiário depois do jogo da Universidad de Chile, eu tinha uma mensagem do Gonçalo Ramos. O jogo aqui foi às 21h30, o que significa que foi às 01h30 em Paris. Espero que o treinador dele não saiba que ele viu o jogo. Estava lá: "Parabéns Mister, grande vitória, sempre a sofrer" (risos). Esse tipo de ligação não se perde porque é muito forte. Nós, naquele momento, acompanhamos um sonho e vimos o sacrifício que todos fizeram.
Willian Pacho, do PSG
— É diferente porque eu o lancei no profissional. Quando chegamos no Independiente, ele não era utilizado. Passada uma semana de treinos, vimos logo que era um zagueiro que tinha todas as condições de não só jogar ali, mas de ser top mundial. Quase 2 metros, canhoto, velocidade absurda, só precisava ser mais agressivo. E foi ganhando isso. É um menino inteligente, com dificuldade inerentes de vida que tinha e foi à procura do seu sonho, que era ser jogador e melhorar as condições de vida de sua família. Eu não escondi, torci muito pelo PSG para ganhar a Liga dos Campeões por esses meninos e também pela história desse novo PSG, que é uma lição para todas. Às vezes os egos começam a ser maiores que os clubes e que os símbolos, e não ha nada acima do símbolo. Nem jogador, nem treinador, nada. Às vezes nós pensamos que alguns estão acima, e não estão. E a história do Paris Saint-Germain é a força da equipe, da juventude, dos nomes que não são tão nomes que dão uma lição de vida e ao futebol moderno.
Botafogo em casa e fora
— É uma preocupação gigante, mesmo antes do Mundial. Era uma situação que vinha se repetindo, íamos (jogar) fora e não ganhávamos. Perdíamos por 1 a 0 ou empatávamos não fazendo gol. Até que ganhamos. Em jogos que poderíamos ter começado vencendo, como contra o Estudiantes (primeiro jogo entre eles na Libertadores) e acabamos depois ganhando na Venezuela (Carabobo). Agora ganhamos contra o Santos. Mas, de fato, é algo que me preocupa e é algo que nos coloca no sexto lugar, mas poderíamos estar mais em cima se tivéssemos somados este pontos que também nos fizeram classificar somente na última partida da fase de grupos da Libertadores. Nós estamos trabalhando em cima disso. É muito difícil ganhar fora de casa neste campeonato, o Ceará ainda não ganhou fora, por exemplo. E há equipes que estão com muitas dificuldades de ganhar fora, outras não. As que estão mais regulares nisso estão lá em cima, é normal. Nós tivemos esse começo atribulado, vamos dando sinais de crescimento, estamos claramente em cima deste tema. É muito fácil dizer que é um tema mental. Pode ser, mas olho para os jogos que perdemos e tem partidas em que jogamos mal. No jogo contra o Bragantino sofremos um gol logo no início, depois temos uma bola do Igor que vai na trave, anda em cima da linha e sai. Depois, mais duas oportunidades e poucas chances do adversário, esse detalhes é que definem. E, curiosamente, na Vila Belmiro, não jogamos tão bem e esses mesmos detalhes viraram (ao nosso favor). Já passei aos meu jogadores, ninguém está acima de nós em exibição. Não estamos perdendo por mais de um gol, estamos a um detalhe. O caminho não é longo para virar a chave, então vamos acreditar no que estamos fazendo. Pode ser que essa vitória na Vila Belmiro tenha sido a virada e que agora sirva de motivação para a Copa do Mundo de Clubes. Tirando o Seattle, já que vamos jogar na casa deles, o restante é campo neutro.