Teve drama, teve dedo - mas foi só uma brincadeira interna - e teve vitória do atual campeão da Libertadores, vivo em busca do bicampeonato. Com gols de Rwan Cruz, Igor Jesus e Artur, contra dois de Palacios, o Botafogo venceu o Estudiantes por 3 a 2 no estádio Nilton Santos, nesta noite de quarta-feira.
O Alvinegro segue na terceira posição do Grupo A, mas chega aos nove pontos e depende de uma vitória simples, em casa, na última rodada, contra a Universidad de Chile, para garantir a classificação às oitavas de final. A "La U" é a líder, com 10 pontos, enquanto o Estudiantes tem nove, mas um saldo de gols maior e está em segundo, no momento. O Carabobo já está eliminado e tem apenas um.
Após a partida, o técnico Renato Paiva fez ponderações e elogios sobre a atuação do time. Considerou, por exemplo, um dos melhores primeiros tempos sob seu comando da equipe.
- O primeiro tempo eu acho que, talvez, foi o melhor desde que aqui chegamos. Muito completa ofensiva e defensivamente. O Estudiantes não conseguiu jogar, a nossa pressão foi asfixiante, a nossa forma de jogar podia ter sido um bocadinho mais na criação de situações de finalização, mas não foi. Mesmo assim tivemos jogadas muito bem elaboradas e relembro que não é fácil jogar contra uma linha de cinco na defesa. No intervalo, mostrarmos imagens aos jogadores, no momento do cruzamento, estavam quatro jogadores dentro da área. Eu disse: não caiam na tentação dos cruzamentos diretos. Procurem as costas ou os intervalos da linha defensiva. Não é fácil, jogaram com a classificação nesse momento, jogaram com a pressão de ser uma final para nós e nós mantivemos a serenidade de não cair numa situação de cruzamento e tentamos saltar uma linha de cinco. Corrigi o posicionamento do Cuiabano, que estava muito metido na linha e o Telles não tinha condição de poder jogar de forma de articular e mexer e fazer saltar os jogadores da linha de cima - analisou Paiva.
No entanto, reconheceu a queda e viu cansaço na segunda etapa. Quando decidiu não substituir dois jogadores fundamentais para o desempate: Marlon Freitas e Artur.
- A segunda parte é um bocadinho de duas coisas, a reação do adversário que marca um gol do nada, num pênalti do nada e depois o cansaço de alguns jogadores. E tu sentes que o Artur está cansado, que o Marlon está cansado, mas depois é o Marlon que faz o passe para o Artur e é o Artur que faz o terceiro gol. E o treinador vive nestas incertezas e por isso é que é a nossa vida de tomar decisões e por isso é que eu fiz o gesto que fiz ao meu colega - contou o treinador, sobre o dedo ao auxiliar.
O treinador ainda analisou a mudança de posição de Cuiabano e uma possível continuidade em posição que não é a de origem.
- Desde o que tem acontecido, com lesões e punições, aqui ou em nenhum microfone, ou na Libertadores, só vou me queixar quando faltarem vinte jogadores. Como não faltam vinte e consigo escalar onze, desde que eu consiga fazer 11, tudo bem. As contratações começam a se adaptar, como o Rwan. E o Cuiabano, por sua verticalidade e capacidade de finalização, dava ritmo ao Telles. O Telles está numa idade que precisa jogar. Eles se entendem às mil maravilhas. Dá para invertê-los porque se conhecem muito bem . É encontrar soluções em vez de chorar as ausências - comentou.
A última rodada da fase de grupos da Libertadores será no próximo dia 27, terça-feira, às 21h30 (de Brasília). O Botafogo recebe a Universidad de Chile no Nilton Santos, enquanto o Estudiantes encara o Carabobo em casa. Antes disso, o Alvinegro tem dois jogos. No domingo, faz clássico com o Flamengo, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, às 18h30. Na quinta encara o Capital-DF, pela Copa do Brasil, fora de casa, às 21h30.
Conversa com Telles
- A expectativa do grupo é o reflexo que criamos aqui. A proximidade que quero com os jogadores, que eles me deem o respeito por mim sem eu precisar ser um sargentão. Termos a capacidade de proatividade da parte deles. O Telles veio dizer: "Mister, fecha o jogo". É a experiência dele, não é um jogador jovem, disputou grandes campeonatos. Veio dizer uma coisa que já tinha decidido, fechar o jogo, óbvio. Quem está no futebol há tempo, olha para o jogo e toma a decisão de fechar, mesmo que muitas pessoas não queiram. Corremos riscos, tínhamos jogadores desgastados.
Duelo com o Flamengo
- É um tremendo elenco. Uma equipe que tem uma forma de jogar qualificada. O treinador de uma escola com muitos treinadores qualificados. Está fazendo um grande trabalho mesmo com pouco tempo. Quero que minha equipe jogue com o Flamengo como fez nos últimos dois jogos. Olhos nos olhos. São duas equipes do Rio de Janeiro, somos campeões da Série A. Temos que jogar dessa forma. Temos que mudar um pouquinho a forma como fazemos fora de casa. São seis jogos com cinco vitórias. Só perdemos para o Bahia. Precisamos ser mais competentes fora para brigarmos por títulos. Jogar em casa com essa moldura fantástica que tivemos hoje ou com os sete mil que apoiaram. Era muito fácil no 2 a 2 dos Estudiantes, os torcedores terem desistido, mas sentiram que pelo que a equipe fez até ali era injusto. Foram o 12º jogador, acreditaram que o 3 a 2 estava ali. Nossa equipe mostrou grande caráter, mas sem a torcida seria impossível. Vamos jogar com zero medo contra uma grande instituição do Rio de Janeiro (Flamengo), como a nossa. Vamos com muito respeito e zero medo.
Resiliência em vitória
- Por mais que eu queira afastar os componentes do rendimento, eu não consigo. Se for só resiliência, você não dá dois chutes na bola. Se for só técnica, não sabe o que vai fazer em campo. Se for tática, e não der dois chutes certos, não conseguir fazer os fundamentos básicos, não consegue jogar. Os quatro fatores são fundamentais: psicológico, físico, tático e técnico. O físico, se não tiver estrutura, não consegue fazer a pressão asfixiante que fizemos hoje. Se me disseres o mais importante, é a tática, ela manda. Porque é ensinar o jogo, o que queremos. Um exercício mostra o que que os jogadores apreendem, mas os outros três fatores precisam estar presentes. Hoje, você (jornalista) fala de resiliência, mas fala no 2 a 2, antes da resiliência houve tática, técnica, física e a parte emocional de dizer que o Estudiantes não vai jogar, que vão fazer dois passes e depois não jogam.
Achou o time ideal?
- Você vai ficando sem solução e depois vai encontrando dentro do que tem. Eu não gosto de mexer muito no time, gosto de manter uma coluna vertebral, mesmo com o calendário pesado. Mas sou obrigado. E tenho que encontrar soluções. Desde algum tempo, quero que meus adversários, por exemplo o Filipe, Luís pense: "o Botafogo vem com dois atacante ou com um?". É 4-3-3 ou 4-2-3-1? Eu tenho que pensar nisso também. É manter alguma imprevisibilidade. Quis fazer isso entre o jogo do Inter e o de hoje e a equipe deu uma resposta muito boa. Conseguiu jogar bem com um e com dois atacantes. Desde que eu entre com 11, topo.
Melhora ofensiva
- Temos um ou outro momento que podemos treinar, agora só temos jogo domingo, amanhã muita gente vai estar se recuperando, possivelmente depois de amanhã ainda teremos alguns a recuperar e, possivelmente, no sábado vamos fazer algumas coisas, mas num volume muito baixo. Mas aquilo que eu digo, as vantagens do jogo posicional são as dinâmicas que criam, basta os jogadores perceberem onde estão, com quem estão acompanhando e partir de um tipo de dinâmica individual para passar e desmarcar, a fazer combinação direta, a um atacar profundidade, outro a jogar no apoio, fora-dentro, dentro-fora. Isso são dinâmicas dos jogos deles, eu só quero que eles estejam juntos, o que não aconteceu no primeiro tempo. Quando Telles recebe, tinha que cruzar ou jogar para trás porque faltava ali o Cuiabano e o Arthur para poderem fazer mexer a linha de cinco (da defesa do Estudiantes).
- De fato, fazer três gols numa linha cinco é um grande mérito, não é fácil. Portanto, esses detalhes que vamos trabalhando pontualmente com a ajuda do vídeo. E, depois é o jogo, é o jogar constantemente, se conhecer. Não tem tempo para treinar, eles têm que se conhecer jogando. É correto? Não é.
Desgaste x Qualidade
- Quando percebemos que o espetáculo das equipes no Brasil começam a baixar é porque as equipes do Brasil não treinam e isso é um problema. As equipes só jogam. E naturalmente quando tu não treina, não se prepara, só recupera e joga, a qualidade dos espetáculos vai baixar. Eu não tenho a mínima dúvida, mas pronto, é o que é. Hoje já tivemos um Rwan num plano completamente diferente, temos um Artur adaptado numa posição, que fez um jogo absolutamente fantástico, mas fizeram todos, não gosto de individualizar . Tenho que encontrar solução para os problemas, olhar para o que tenho e encontrar soluções.
Jogar com dois centroavantes
- Quando jogamos contra Internacional só com um nove, porque tivemos o Mastriani lesionado, e porque eu já sabia que o Estudiantes viria com uma linha de cinco (na defesa) e eu iria precisar de dois noves, então muda aí um bocadinho contra o Internacional para ter um Rwan fresco. Porque o Igor tem se desgastado muito. Esse dois noves para além de muita coisa liberam o Artur e deixam ele desbloquear o jogo como nós queríamos.
Susto com empate
- Quando nós fizemos o 2 a 0, o jogo estava controlado, o adversário só ameaçava com cruzamentos, surge aí o lance do pênalti, se é que foi pênalti, mas foi uma coisa completamente inusitada. Uma bola no alto, o Gregore nem estava olhando e a bola bateu em sua mão. Se formos considerar isso pênalti... e eu não me meto, quem manda é o árbitro, o VAR, e eu não me meto. e nem quero, porque isso eu não controlo, nem quero e eu nunca falei da arbitragem
- Não podemos dizer que é uma jogada de grande oportunidade, foi uma jogada do nada, pronto. E aí méritos do adversário no jogo, vamos voltar ao quesito da resiliência e do psicológico, uma equipe que perdia por 2 a 0 e faz um gol, uma equipe que ganhava por 2 a 0 e toma um gol e vamos balançar em questão de anímicos, juntamente com o cansaço. Depois é o meu trabalho, há jogadores muito cansados, Gregore , Marlon, os dois zagueiros, Igor, Artur, eles têm jogado quase sempre. Mas você, como treinador, tem aquele feeling de conhecer os seus jogadores e dizer o que vale mais: tirá-los para descansar ou deixar eles ali porque a qualquer momento vão fazer o que sabem bem. A bola vem do Marlon e o Artur faz o gol. As instruções eram exatamente essas, para se relacionar com as movimentações do Igor. E depois, se ganhar é o maior, se perder, já não és. Porém, eu tenho que tomar decisões e hoje eu acertei.